21 de maio de 2007

Formigas...

Uma formiga perscruta alimento na parede do meu quarto… Logo logo, uma fileira de formigas invadirá o meu quarto, caso a busca por meia dúzia de grãos de açúcar ou de migalhas de pão se torne frutífera…
Curioso o modo de viver, ou por outra, de sobreviver destes seres insignificantes…tão simples…tão irracional…tão despreocupada…pensar que com uma simples pressão do meu polegar existirá menos uma formiga no universo…Quem se importaria?
Porque é que os seres humanos se julgam superiores em relação aos outros animais? Será a coexistência de espécies algo tão utópico e poeticamente inatingível para os humanos?
Quem nos julgamos? Mas também…quem nos julgará?
Está ali outra formiga…e outra…esta chegou através da janela entreaberta. O que farei? O que farão? Incomodar-se-ão da minha presença? Não acredito…
Mas e quanto a mim? Incomodar-me-ão? Talvez…Porque não? Qual o animal que gosta de invasão da sua propriedade? Estou no meu direito…ou não?
Desde há algum tempo que considero os seres humanos algo execráveis… a todo o custo começaram por ser nómadas e a absorver os recursos naturais de uma zona, afectando a biosfera existente à sua volta…e depois o que fazem? Simples…mudavam-se para outra zona, deixando um rasto de destruição, o que demonstrou desde cedo a nossa posição para com a natureza…mas acabaremos por sofrer por isso… um dia…
Levanto-me…fecho a janela…(mas que coisa!)…isolo as formigas. Quando era novo arranjava uma lupa e procurava queimar as antenas, as patas, a cabeça, toda uma formiga com a luz do sol centrada na lupa…todos os miúdos o fazem…acham engraçado…como engraçado seria se existissem seres maiores que nós próprios e nos queimassem igualmente com uma espécie de lupa gigante, fazendo-nos sofrer e sem capacidade de autodefesa…
Muitos dirão: Mas as formigas são seres completamente irracionais e que seguem apenas o seu instinto…e eu perguntarei: quando nos aleijamos gravemente reflectimos se devemos exprimir algum sentimento de dor? Pensamos meticulosamente se devemos estar felizes quando, por milagre da natureza, somos pais de um ser minúsculo, indefeso e chorão? Aí seremos racionais?
As formigas também sentem dor…como esta sentiu assim que a esborrachei…mas até foi rápido, quase indolor…faltam duas…
Os humanos não sentem o mal que fazem à natureza… a nossa manipulação desta com base no argumento da racionalidade, da qualidade de vida…para quem? Para os seres vivos em geral? Não…decerto que não…Para os seres humanos em geral? Nem isso, direi. Existem seres humanos que procuram sobreviver, como estas duas formigas…
Dirão: com essa argumentação dirá que essa é a forma de vida adequada…
Responderei: nunca uma formiga deixa outra para trás…todas trabalham em conjunto para a harmonia do formigueiro…Nunca uma formiga se quereria superiorizar perante a rainha, perante outras da sua espécie, procurando poder. Nunca uma formiga quereria modificar o seu formigueiro de forma a quase o desmanchar, arriscando a sua vida e a das companheiras, de modo a arranjar um lugar mais confortável para si, em detrimento das outras…Nunca um conjunto de formigas mudou de formigueiro ao esgotar os recursos da região, porque nunca uma família de formigas esgotará os recursos de uma região…
As formigas do quarto encontraram o cadáver da outra que esborrachei…aflitas, e depois de tocarem as antenas, procuram rapidamente a janela, que eu entreabro novamente.
Terminarei dizendo: seres inteligentes, as formigas…

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