30 de setembro de 2009

No ano de 1959 #3

(#1, #2, )

Anatomy of a Murder, de Otto Preminger

Existe na gíria futebolística o cognome de 'carregador de piano'. Figura em extinção devido à emergência e dissimilação do paradigma da complexidade aplicado ao desporto Futebol, dele se exigiam os trabalhos mais pesados e menos visíveis, destruir o trabalho do adversário e dar segurança (cobertura) às acções das estrelas (jogadores criativos).


Em Anatomy of Murder (Anatomia de um Crime), o actor James Stewart teve de carregar com o piano para depois o tocar. Não me lembro de trabalhos tão extensos e abnegados de uma estrela em papel principal. Em cada linha de texto e tom associado, em cada expressão facial e em todos os silêncios cirúrgicos, vemos o protégé de Hitchcock a construir uma obra notável e a elevar o filme de Preminger, à partida banal, até ao Olimpo dos courtroom dramas. Depois de duas horas e meia de um suar hercúleo e para fechar o livro (outro lugar comum do futebolês) vemos finalmente James Stewart a tocar as pautas de Duke Ellington no piano que carregou.

P.S. - Alem de James Stewart, também um poster fantástico ajudou à perpetuação do filme.

29 de setembro de 2009

No ano de 1959 #2


(#1,)

Some Like It Hot, de Billy Wilder

Um filme nos antípodas da Nouvelle Vague. Aqui tudo cavalga no show off. O filme é tratado como uma tela virgem que se enche até que nenhum vislumbre do branco original seja possível. Apoiado num refinado texto, o próprio método de interpretação revela uma formação teatral e o impacto no espectador é objectivo primário ao qual se submete o contar da história.
Um dos filme imortais de Hollywood da década de 50, ainda imune aos novos registos europeus.


Ve-lo hoje é um interessante exercício de comparação com a produção actual de comédias românticas. Toda a maquilhagem não impediu a emergência de uma individualidade de "Some Like It Hot" e de autênticidade das suas estrelas (Tony Curtis, Jack Lemmon e Marilyn Monroe). Procurem por estes conceitos no cartaz da semana.


23 de setembro de 2009

O melhor número do Will Ferrell

Já era tempo de alguém defender as coitadas das seguradoras de saúde. E os pobres dos seus accionistas. Para não falar dos seus acossados administradores, que deixariam de ter os seus milhões de bónus.

Humor do bom, como activismo político.



E eu não estou a ser sarcástico, not at all.

P.S. - A do mini-zoo é muito boa.

O maior dos quatrocentos golpes ou, No ano de 1959 #1


Bem, depois da fantástica pancada do Federer no post anterior, tinha de elevar a fasquia. Em qualidade seria discutível, ... talvez não, em quantidade só falando n "Os Quatrocentos Golpes" de François Truffaut.

Há aquele popular aforismo "Quem não sabe fazer, ensina", muitas vezes citada para desvalorizar o conhecimento instruído/científico em oposto ao empirismo. E há aqueles que observam, estudam, pensam, propõem novos paradigmas e depois criam obras que aqueles que dizem "Quem não sabe fazer, ensina" copiarão até que um novo intelecto agitador faça «tilt» às convenções instaladas.


Truffaut foi crítico de cinema antes de realizar e terá sido esse distanciamento supervisionado que lhe permitiu, nas minhas palavras, mandar uma enorme pedrada no charco. Outros chamaram-lhe a Nouvelle Vague.
Com "Les Quatre Cents Coups" uma nova forma de filmar irrompe. Aquilo que era artifício fica de fora, a encenação é secundarizada, enquanto que a estória, os personagens e aquilo que lhes é intrínseco é magnificado, nada mais. O que distrai não interessa, o que nos aproxima é explorado.



É assim que Truffaut nos mostra (com marcas autobiográficas) Antoine Doinel e os que os rodeiam. Colegas, professores, pais, o seu amigo Rémy e Paris, aquela Paris donde não se vê a torre Eiffel, e a qual Antoine e Rémy preferem ao pátio da escola ou aos seus ninhos familiares. Tudo é conexo, desde o caixote do lixo ao canal da mancha e tudo nos guia àquele solitário mas libertador plano final, um dos momentos mais autênticos que vi em cinema.


14 de setembro de 2009

Care for a hotdog?

Federer: "The greatest shot I ever hit in my life,"


8 de setembro de 2009

The Soloist

Pode não ser o mais feliz dos filmes, digo até que é uma obra bastante limitada, mas é uma história magnífica e isso obriga-me a o vos aconselhar.

2 de setembro de 2009

Fotografia Molecular

Uma equipa de investigação da IBM em Zurique bateu o 'record mundial' de resolução máxima de imagem. Usando a non-contact atomic force microscopy, pela primeira vez se consegue ver de facto a estrutura atómica de uma molécula, no caso o pentaceno.Quando jovem imberbe iniciado na escola, e pela primeira vez olhei por um microscópio não imaginava que iria ver algo assim, mas qualquer coisa parecida. Então depois de me dizerem que havia ultra-microscópios de varrimento electrónico, etc... pensei que fosse possível ver tudo o que existe. Com o evoluir do tempo e dos ensinamentos lá fui compreendendo as limitações da tecnologia e cheguei à conclusão que a ideia de conseguir ver àtomos era a coisa mais ingénua que tinha pensado. E isso foi para mim um pouco como a morte do Pai Natal na infância.
Quando vi esta imagem lembrei-me da tal primeira vez ao microscópio e achei engraçado como em tão pouco tempo utopias caem. E afinal o Pai Natal pode existir, cientificamente provado.