15 de novembro de 2009

Thomas Newman

A simplicidade de uma ou duas notas agudas no piano marcam bastante a minha ideia quando ouço falar em Thomas Newman. Lembro-me imediatamente da primeira vez que vi o Shawshank Redemption. Aquelas duas ou três notas endireitaram-me no sofá e obececaram-me durante uns tempos. O tema do Six Feet Under é de outro mundo. Até o Wall-e e o Nemo têm o seu cunho.


Todos estes temas me marcaram, uns mais do que outros, é certo.
Mas este é para quando tudo parece parar por momentos e um saco de plástico dança ao sabor do vento. Nada mais interessa.

Ricky Fitts:" It was one of those days when it's a minute away from snowing and there's this electricity in the air, you can almost hear it. And this bag was, like, dancing with me. Like a little kid begging me to play with it. For fifteen minutes. And that's the day I knew there was this entire life behind things, and... this incredibly benevolent force, that wanted me to know there was no reason to be afraid, ever. Video's a poor excuse, I know. But it helps me remember... and I need to remember... Sometimes there's so much beauty in the world I feel like I can't take it, like my heart's going to cave in."

Lester Burnham: "[...]And then I remember to relax, and stop trying to hold on to it, and then it flows through me like rain and I can't feel anything but gratitude for every single moment of my stupid little life... You have no idea what I'm talking about, I'm sure. But don't worry... you will someday."

- American Beauty -

12 de novembro de 2009

Lar doce lar

Lar doce lar,
"- Oh, that's a cliché.
- You're right (...) Sometimes a cliché is finally the best way to make one's point"

Woody Allen regresa a casa, volta à sua cidade, Nova Iorque, e ao seu género, o filme à Woody Allen. Sente-se o conforto desta familiaridade revisitada nos passeios de Manhattan e nas esplanadas de café que os ocupam, chega-nos o cheiro a peixe dos mercados de Chinatown e aconchega-nos um intimismo que só um apertado apartamento duma cidade de milhões pode oferecer. Lá dentro convivemos com Boris Yellnikoff e Melody St. Ann, um snob cientista fora da validade e uma primaveril Mississipiana com um intelecto para preencher. Sobre este díptico quasi-assexuado pinta Woody o seu humor neurótico, com a mesma textura de sempre, mas no tom mais grave de Larry David, que se canta e recanta os parabéns cada vez que lava as mãos.


Tal como num regresso a casa de uma grande viagem, nos primeiros dias gozamos o desvanecer das nossas saudades até depois o tédio nos obrigar a sair e voltar a apanhar a chuva que vemos cair lá fora. Talvez para prevenir um ataque de panico existencialista a horas pornográficas, Woody Allen ficou-se pela primeira parte.

5 de novembro de 2009

No ano de 1959 #6

(#1, #2, #3, #4, #5)

"Kind of Blue" - Miles Davis


Era a única maneira de fechar o ciclo de homenagens ao ano 1959. Quando se fala nos maiores, aquilo que na minha análise funciona de crivo é a revolução, material ou ideológica, que essa personalidade realizou. Não me atreveria a discutir quem foi a maior ou a mais importante
figura na história do jazz, até porque só cá cheguei há pouco mais de 20 anos e o género já se ouve há quase um século, mas não esquecendo Louis Armstrong, a maior influência no Jazz que hoje nos chega aos ouvidos é irrefutávelmente Miles Davis. Quando perguntamos ou ouvimos perguntar a qualquer músico, seja de Jazz, de Blues ou mesmo de Soul quais os seus autores de referência, mais que frequentemente escutamos o nome Miles Davis. E nenhum álbum terá contribuído mais para a revolução 'Milesiana' que "Kind of Blue".


Reza a lenda que Miles terá escrito todo o material em apenas dois dias na semana de véspera da gravação, e que só terá partilhado as suas composições com os músicos que com ele tocaram (elenco de luxo: John Coltrane, Billy Evans, entre outros) já no estúdio imediatamente antes de gravar. E o que dali saiu no fim do dia (na verdade houve duas sessões de gravação) ecoará até à eternidade.
Com o estudo da nova perspectiva de improvisação apresentada por George Russell que incidia sobre o uso da escala em lugar da alternância de acordes, e depois das experiências em 'Milestones' no ano anterior, Miles Davis gravou 'Kind of Blue' totalmente baseado no 'modo/modalidade' e esta mudança de paradigma explanada numa interpretação magistral e sem artifícios ou protuberâncias (Miles Davis não era o maior dos virtuosos) resultou um som de uma subtileza quase etérea e inimaginável no panorama do jazz da altura (auge do be-bop de Charlie Parker e Dizzy Gillespie). Houve quem se referisse a este trabalho como a destilação da Arte de Miles Davis.

"Kind of Blue" ficou como o álbum que se empresta a alguém que quer experimentar ouvir Jazz, é preciso dizer mais?