5 de novembro de 2009

No ano de 1959 #6

(#1, #2, #3, #4, #5)

"Kind of Blue" - Miles Davis


Era a única maneira de fechar o ciclo de homenagens ao ano 1959. Quando se fala nos maiores, aquilo que na minha análise funciona de crivo é a revolução, material ou ideológica, que essa personalidade realizou. Não me atreveria a discutir quem foi a maior ou a mais importante
figura na história do jazz, até porque só cá cheguei há pouco mais de 20 anos e o género já se ouve há quase um século, mas não esquecendo Louis Armstrong, a maior influência no Jazz que hoje nos chega aos ouvidos é irrefutávelmente Miles Davis. Quando perguntamos ou ouvimos perguntar a qualquer músico, seja de Jazz, de Blues ou mesmo de Soul quais os seus autores de referência, mais que frequentemente escutamos o nome Miles Davis. E nenhum álbum terá contribuído mais para a revolução 'Milesiana' que "Kind of Blue".


Reza a lenda que Miles terá escrito todo o material em apenas dois dias na semana de véspera da gravação, e que só terá partilhado as suas composições com os músicos que com ele tocaram (elenco de luxo: John Coltrane, Billy Evans, entre outros) já no estúdio imediatamente antes de gravar. E o que dali saiu no fim do dia (na verdade houve duas sessões de gravação) ecoará até à eternidade.
Com o estudo da nova perspectiva de improvisação apresentada por George Russell que incidia sobre o uso da escala em lugar da alternância de acordes, e depois das experiências em 'Milestones' no ano anterior, Miles Davis gravou 'Kind of Blue' totalmente baseado no 'modo/modalidade' e esta mudança de paradigma explanada numa interpretação magistral e sem artifícios ou protuberâncias (Miles Davis não era o maior dos virtuosos) resultou um som de uma subtileza quase etérea e inimaginável no panorama do jazz da altura (auge do be-bop de Charlie Parker e Dizzy Gillespie). Houve quem se referisse a este trabalho como a destilação da Arte de Miles Davis.

"Kind of Blue" ficou como o álbum que se empresta a alguém que quer experimentar ouvir Jazz, é preciso dizer mais?

1 comentário:

MarcoAJLopes disse...

1 - Neste caso trata-se mesmo da utilização de intervalos melódicos da escala cromática incidente em detrimento de intervalos harmónicos, acordes, na própria composição do tema e não só na improvisação. Dá cabo da cabeça a um gajo. De outro mundo. Top 10. O Miles Davis teve sempre veia de visionário ou, por outro lado, fartava-se depressa do que andava a fazer e tentava algo novo.

2 - Quando falas no melhor conjunto de jazz de sempre e escreves "entre outros"... devias levar porrada. O Chambers é a minha referência de todos os tempos, o Cobb é o coração do album a par do Evans e o Cannonball Adderley é um ilustre desconhecido (lol) com participação em perto de cem projectos, penso que mais de metade destes como protagonista. É "qualquer coisa" de genial.

3 - Portugal é um país espectacular em termos culturais. Há bocado passei ali pela Box no Dolce Vita e trouxe 100 temas certos do Nat King Cole (45) e do Willie Nelson (55) por 5,98€, que estavam no fundo de um caixote no canto da loja. Já ganhei o dia.