6 de junho de 2011

Paul Thomas Anderson #5


Creio que no fim da carreira de Paul Thomas Anderson iremos recuar até "There Will Be Blood" e classificá-lo como a verdadeira herança deste realizador em favor do grande cinema americano. Todo o fotograma deste filme é épico e a performance de Daniel Day-Lewis inigualável no panorama cinematográfico da década passada.




9 de maio de 2011

Paul Thomas Anderson #4


Num filme não aconselhável a autistas, epilépticos, nem a malta com uma janela de atenção inferior a 15 segundos, Paul Thomas Anderson trabalha no contraste.

No mundo de Barry Egan (Adam Sandler) a solidão no trabalho coexiste com a multidão das suas 7 irmãs, a sua apresentação exterior arranjadinha é cápsula duma essência paranóica que se opõem à candura de Lena Leonard (Emily Watson).

Neste branco e preto em que viajamos ao longo do filme, senti-me um pouco perdido. Não sei se quando Barry fugia dos rufias ou quando ia coleccionando iogurtes pelos cupões, o carácter estrambólico do que observava ia bloqueando o sub-texto que podia emergir do tal jogo de contrastes. Na fim o paranóico acabou por dominar sobre o cândido.
O titulo original do filme é "Punch-Drunk Love". Confesso que apenas me senti punched.

25 de abril de 2011

Paul Thomas Anderson #3

Escrevi sobre "Magnólia" há quatro anos neste blog. Obviamente que hoje a minha visão sobre o filme não é a exacta replica do olhar que sobre ele exerci na altura, mas ao reler a minha pobre crítica consigo reter com a mesma firmeza de opinião o seguinte aforismo como curta sentença deste terceiro filme de P. T. Anderson.

"(...) porque é personalizado sem ser autista, (...) gostei."



24 de abril de 2011

Paul Thomas Anderson #2


Custa-me escrever sobre um filme que não gostei, ainda mais explicar o que me levou a não gostar.


Todo o ser pensante é influenciável e a expectativa que temos sobre algo é indissociável
(results may vary) da apreciação desse mesmo objecto, por isso, depois de ler e ouvir que este é que era o filme de lançamento do P. T. Anderson, que com "Boogie Nights" ele se tinha emancipado dos outros realizadores-projecto, não escondo o meu desapontamento. Curiosamente é esse o sentimento sobre o qual versa o filme: a quebra de expectativas, a subida e a descida do pedestal.

Reconheço no entanto méritos na abordagem ao tema do filme, o mundo da pornografia, feita por uma via menos óbvia e dessa forma fugindo à obscenidade que não seria gratuita mas decerto oca de virtude. Outra subtileza residiu na cor ou de como os tons vivos insinuavam a luxuria que a lente queria esconder.
Tudo o resto pareceu-me de curto fulgor e sem ponta da classe que no filme anterior "Hard Eight/Sidney" me tinha aturdido. Além disso, o limbo entre drama e retro-comédia sobre o qual caminha a narrativa não me cultivou o ânimo nem a atenção.


Fica porém uma cena no cardápio da memória, aquela onde participa Alfred Molina no papel de um insólito traficante de droga que, entre o som de
'Sister Christian' e os rastilhos que o seu chinês de estimação vai estoirando, hospeda uma insana e hilariante sequência de acontecimentos que assinalarão o 'turning-point' do argumento. É o talento demonstrado na condução e montagem desse momento que nos lembra que foi afinal P. T. Anderson quem esteve por detrás da câmara desde o inicio.


15 de abril de 2011

Paul Thomas Anderson #1

Uma das coisas que a era da televisão digital nos tirou foi o sentimento de refém. Explico. Hoje vemos apenas o que queremos, seja à hora em que o jogo/filme/série é programado ou depois de gravado e visto sem prejuízo de intervalos para apetites ou necessidades. Deixámos então de ser dependentes daquilo que os canais tradicionais escolhiam para nós, e de seguida o meu ponto: A verdade é que a margem que o programador tinha para nos surpreender desapareceu.
Não vou fazer de velho do Restelo e dizer que antigamente é que era bom, o serviço que podemos desfrutar de MEO's, ZON's, IRIS's e toda essa fruta são de um conforto há muito desejado por quem, como eu, exasperava com intervalos imensos, atrasos de programação e bexigas cheias quando o drama estava no auge.


Mas voltando a dar razão a quem disse que uma pessoa sem a capacidade para se admirar com algo inesperado pouco difere de alguém morto, relembro com inevitável nostalgia as longas noites de cinema avulso que consumia no meu quarto pela televisão HITACHI com antena encimada. Quando a época era alta e o sono curto, muito lixo visual aturei, mas não raras vezes aparecia um filme cujo o nome não conhecia, não sabia de quem era ou quem entrava, mas do qual não conseguia desviar os sentidos. Em conjugação com esta ingenuidade cultural havia ainda a escassez de on-line info, vulgo imdb, e portanto podiam passar vários meses ou vários anos até conseguir chamar pelo nome o filme que me tinha arrebatado. Pois bem, não há filme que se rotule melhor dessa marca que o primeiro do P. T. Anderson, que curiosamente tanto podemos chamar de "Sidney" com "Hard Eight".


As suas particularidades de estilo, a forma como o nível de tensão é sempre constante mas nunca nos fatiga, até a própria e ligeira implausibilidade do argumento capta de tal forma um espectador-transeunte que a nossa noite branca passa a fazer parte da memória. Com os mesmos moldes que farão 'Boogie Nights' e ' Magnólia', P. T. Anderson guia-nos neste filme através dos personagens. A magia aqui não está na fotografia, não está nos efeitos especiais, não está nos twists de narração, está na relação de Sidney (Philip Baker Hall) com o seu protegido John (John C. Reilly) e no meio para qual o traz e onde o devolve à vida: a noite e o jogo.

Entre a nossa solidão e a solidão de Sidney cria-se um pacto, nós não o deixamos de ver, ele não nos deixa de falar e enquanto o filme dura não nos sentimos sós.

3 de janeiro de 2011

a redescoberta da televisão.

Escrevia aqui há uns tempos o Sábados, falando da sua, na altura recente, redescoberta da rádio.

Pois bem, por motivos diferentes, estou numa etapa em que começo a redescobrir, não só a rádio como também a televisão. E isto deve-se... à Internet.

É verdade, a facilidade de acesso a uma monstruosa quantidade de informação que nos é facultada pela internet noutros tempos afastou-me dos demais meios de comunicação (não abdiquei contudo do ritual jornal+café+copo de água).


Ironicamente ou não, essa facilidade de acesso a informação passou agora a aproximar-me dos esquecidos. À cabeça das razões do retorno a necessidade do audiovisual intrínseca na minha geração e principalmente a independência da grelha de programação dos conteúdos (contextualizados para fazer face aos objectivos de sharing e de audiências para alegrar accionistas), que nos permite visualizar o que queremos, quando queremos. É nessa, lá está, acessibilidade, ou comodidade, como queiram, que reside a atracção, e possibilita a entusiasmante descoberta de conteúdos de qualidade de que nem se sabia existirem.

MarcoAJLopes escreve de acordo com a antiga ortografia
(por não se ter ainda dado ao trabalho de saber em absoluto as novas regras do acordo)