24 de abril de 2011

Paul Thomas Anderson #2


Custa-me escrever sobre um filme que não gostei, ainda mais explicar o que me levou a não gostar.


Todo o ser pensante é influenciável e a expectativa que temos sobre algo é indissociável
(results may vary) da apreciação desse mesmo objecto, por isso, depois de ler e ouvir que este é que era o filme de lançamento do P. T. Anderson, que com "Boogie Nights" ele se tinha emancipado dos outros realizadores-projecto, não escondo o meu desapontamento. Curiosamente é esse o sentimento sobre o qual versa o filme: a quebra de expectativas, a subida e a descida do pedestal.

Reconheço no entanto méritos na abordagem ao tema do filme, o mundo da pornografia, feita por uma via menos óbvia e dessa forma fugindo à obscenidade que não seria gratuita mas decerto oca de virtude. Outra subtileza residiu na cor ou de como os tons vivos insinuavam a luxuria que a lente queria esconder.
Tudo o resto pareceu-me de curto fulgor e sem ponta da classe que no filme anterior "Hard Eight/Sidney" me tinha aturdido. Além disso, o limbo entre drama e retro-comédia sobre o qual caminha a narrativa não me cultivou o ânimo nem a atenção.


Fica porém uma cena no cardápio da memória, aquela onde participa Alfred Molina no papel de um insólito traficante de droga que, entre o som de
'Sister Christian' e os rastilhos que o seu chinês de estimação vai estoirando, hospeda uma insana e hilariante sequência de acontecimentos que assinalarão o 'turning-point' do argumento. É o talento demonstrado na condução e montagem desse momento que nos lembra que foi afinal P. T. Anderson quem esteve por detrás da câmara desde o inicio.


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