9 de julho de 2009

"Os Filmes" #2.2


"Then you've seen me, I come and stand at every door
Then you've seen me, I always leave with less than I had before
Then you've seen me, bet I can make you smile when the blood, it hits the floor
Tell me, friend, can you ask for anything more?
Tell me can you ask for anything more?"


Frank Langella, ao longo de toda a rodagem do filme "Frost/Nixon" e como preparação para o papel de Nixon, viveu dentro de um fato e pose presidencial. Tanto em cena como fora de cena, toda a gente o tratava por "Mr. President". O actor admitia que apreciava jogar às cartas e um ambiente de convivência nos 'sets' mas considerando que isso comprometeria a sua interpretação, resguardava-se de tais momentos sociais. Por oposição, sentia-se mesmo uma atmosfera de contronto e intriga entre os actores e equipas técnicas afectas a cada lado (Frost vs Nixon). O actor chega mesmo a dizer que praticamente ninguem que tenha participado no filme chegou mesmo a conhecer Frank Langella, o próprio.

Para Mickey Rourke interpretar Randy 'The Ram' em "The Wrestler", teve de viver os seus últimos 20 anos.


Perguntarmo-nos: isso tira valor ao seu papel?
Desrespeitando as regras de discurso, respondo como nova pergunta: É possivel imaginar 'The Wrestler" sem Mickey Rourke? Eu não consigo.
O facto de o seu percurso pessoal ser colinear com o do personagem que interpreta, intensifica a construção do ser fictício e acelera a sua identificação. É verdade que ao longo do filme não sabemos se é 'The Ram' que se atira ou se é Rourke que cai, se o discurso nas cenas finais é do argumento original ou foi um desabafar do actor.
Mas em todos os papéis é a entrega do actor que embute vida no personagem.

Neste filme, Mickey Rourke entrega a sua vida a Randy 'The Ram'.
Toma, este é o meu corpo, o meu sangue, a minha alma, desde os meus sucessos às minhas profundas desgraças, aqui me tens. E seguindo Randy através da lente confidente de Aronofsky, também nós (espectadores) entramos naqueles balneários do Wrestling, também nós percorremos os corredores do supermercado e tudo o que ganhámos deixamos nas ligas de nylon da Cassidy. Algures no meio de tudo isto encontramos o nosso (anti-)herói e aquilo que dele ficou para trás. É este insuperável altruísmo que magnifica o seu papel e torna a sua interpretação igualmente insuperável.



1 comentário:

MarcoAJLopes disse...

Ainda bem que escreves isto, porque é precisamente neste ponto crucial que n concordo contigo. Porque para mim, tendo essa vida semelhante (o filme foi precisamente feito para ele, provavelmente, n sei) tira, quer queiramos quer não, o tal processo de interiorização do personagem que falas em relação ao Langella, e a que eu acrescento o Penn,o Ledger, a Winslet e o Day-Lewis, por exemplo, que para mim tiveram das melhores prestações dos últimos anos.

Claro que sinceramente não consigo comentar o teu post sem me conseguir libertar completamente da minha opinião em relação ao filme. Para mim era muito mais facil concordar contigo se tivesse tido a mesma opinião em relação ao filme, obviamente, mas sinceramente não me tocou lá muito. Como tal a minha opinião vale apenas o que vale.

Eu nem sei se o Rourke não teve que interiorizar também a personagem, eventualmente porque a vida dele pode n ter sido sequer perto daquilo na realidade. Mas n me conseguiu marcar. Lá está, porque o filme tb n me marcou.