Quem me conhece deve estar a pensar: 'Este gajo está bom? Isto não é nada dele...'
Realmente tem nada a ver comigo elogiar um músico português... Mas também, não percebo... Quem é que falou em elogiar?
O título diz tudo.
Isto vem a propósito de uma entrevista ao artista (curioso este termo, só o encontro em portugal para nos referirmos a um musico...porque será?) que li este fim de semana numa revista do correio da manhã feita por José Manuel Simões.
" O cantor de 'Chico Fininho' está aqui exposto como nunca. Sem papas na língua e muita revolta, aponta feridas e o dedo em riste a um povo, o nosso, 'hipócrita,medroso, cobarde e conformista' ". Assim reza a introdução da entrevista. Muito bem encaminhada, de referir. Aconselho a sua leitura na íntegra.
Isto de facto é espectacular, o nosso país.
Rui Veloso diz a certa altura: "Nós tivemos de mendigar uma lei para passar 25% de musica portuguesa e mesmo assim sofremos muitas resistencias. Inclusivamente o PSD votou contra. Isto é uma vergonha. Tratam-nos como palermas, ou palhaços, e ainda nos passam um atestado de idiotice."
Isto é tão regozijante pra mim. Estou a escrever estas palavras com um sorriso tamanho. Maldoso? Talvez. Injusto? Vamos ver.
"-É muito exigente? -Sou, mas o país não corresponde ao meu grau de exigência. O português é cobardola, vive num clima de medo, é fatalista e conformado. Ninguém protesta nem exige nada"
Entre outras maravilhosas declarações, entre as quais "... por causa destas coisas é que eu preferia ser espanhol ou inglês.","... é muito dificil viver num país onde não há cultura de excelência...".
Por mais que só fique bem a uma figura pública como o Rui Veloso dizer isto (ah, pois, eu sou sarcastico, é verdade), vamos por partes.
- Em relação à lei implementada pelo governo: Isto de facto é penoso para os músicos. é preciso uma lei para passar musica portuguesa? Nas palavras de Carlos do Carmo: "Não é triste?". E é, de facto.
- Vivemos num país 'hipócrita,medroso, cobarde e conformista'.
Quando foi a ultima vez que o Rui Veloso fez um album de qualidade? (Alguns como eu diriam que raras as vezes isso aconteceu). Parece que existe um certo receio de criar algo novo ou experimentar novas sonoridades ("medroso, cobarde"?).
Ou por outro lado, apenas está satisfeito com o estatuto que adquiriu ao longo do tempo e que dezenas de anos a cantar as mesmas musicas lhe proporcionaram. (escusado será dizer:"conformismo"?).
E agora, do alto do seu pedestal, cospe em todas as direcções.
Mas parece que quando se ganha o "estatuto" entra-se no estado nirvana e a partir daí logo se vê. Decentemente, se nada têm a dar à musica, anuncia-se uma retirada, de maneira a deixar espaço a quem efectivamente tem algo a oferecer e se encontra sufocado. Mas o deixa-andar sabe melhor... é assim a musica portuguesa. Este é o seu reflexo mais cristalino.
E depois é o país que não corresponde ao nível de exigencia do músico. Parece-me o contrário...hum...
"Tratam-nos como palermas, ou palhaços, e ainda nos passam um atestado de idiotice."
Não é inteiramente verdade mas seria altura de comprovar que a música portuguesa tem algum valor tocando, inovando, implementando identidades musicais e não fazendo figura de coitadinho quando se dá entrevistas. Isso, sem dúvida, merece um atestado de idiotice. Pelo menos passado por mim.
2 comentários:
Não sei o que te dizer...
Apesar de acabar por ser ele próprio um exemplo daquilo que mais repudia no país, como tu demonstras, haverá figuras com maior 'culpa no cartório'.
Enquanto que, gostos à parte, Rui Veloso deixa obra, outros nem isso. O que mais preocupa é que aqueles que se 'deixam andar' (Veloso, Palma, Abrunhosa) foram os poucos que fizeram alguma coisa relevante, e esse relevância já é velha de mais. Enfim, brevemente o tema merecerá um post meu. Kand tiver tmp pa inventar algo de jeito (ñ necessáriamente) pa escrever.
Aceito que têm obra (Não podes incluir o Abrunhosa ao pé dos outros dois!- é mais recente e e talvez por isso bastante mais consistente, diga-se o que se disser e gostos à parte).
Mas julgo qe o que está aqui em causa tem mesmo a ver com esta característica irritante de se tornarem uns coitadinhos. No outro dia era o Toy que dizia: "Ah e tal porque n posso acender cigarros porque multam-me, mas na radio ninguem passa musica portuguesa e ninguem lhes faz nada".
Não deixa de ter razão, mas perde muita por tentar comparar as coisas. Apesar de "não se fumar em locais publicos" e "não passar musica portuguesa nas radios" possuirem bastante afinidade: comtribuem ambas sempre para uma melhor qualidade de vida dos portugueses.
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